Haiti: como militar do Exército salvou a si e a outros em 2010
Brasília (DF) – 12 de janeiro de 2010. Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atinge o sul da ilha de Hispaniola, próximo a Porto Príncipe, capital do Haiti. Em instantes, prédios inteiros desmoronam, milhares de pessoas são esmagadas por escombros e outras tantas ficam soterradas. Em meio a este cenário estão os militares brasileiros que participam da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH) – e entre eles, o então Tenente-Coronel Adriano de Souza Azevedo, do Exército Brasileiro. Nas primeiras doze horas após a catástrofe, o oficial viveria uma história de sofrimento e bravura que o marcaria para o resto da vida.
No momento do terremoto, o Tenente-Coronel Azevedo e o Tenente-Coronel Alexandre Santos participavam de uma reunião no Hotel Christopher, utilizado como sede da MINUSTAH no Haiti. “Era meu primeiro dia de trabalho. Fui com diversos outros militares à sede da missão para recebermos a função. Eu estava olhando a sala de conferências, uma sala bonita, cheia de bandeiras, quando de repente, por volta de 16h50, houve um pequeno tremor e uma forte explosão que me jogou no chão”, detalhou o militar, atualmente coronel da reserva.
Quando o desabamento do hotel se iniciou, o desespero tomou conta de todos. “Minha tendência natural foi sair correndo do prédio. Só que quando fiz isso, ao levantar, vi meu adjunto. O Major Guimarães ia descendo a escada quando o prédio caiu para frente e o matou. A estrutura foi se colapsando e tudo começou a escurecer. Lembro-me de dois sons: o de pessoas morrendo, dando o último suspiro, já esmagadas, e o som dos estabilizadores dos computadores”.
Após longo tempo de aflição, o Tenente-Coronel Azevedo conseguiu encontrar uma solução para a situação.
“Vi uma pequena fresta em uma parede, um pequeno raio de luz que entrou. Tentei chegar nesse local e, com a força que a gente ganha na hora, arranquei três tijolos e atravessei a parede”. O militar brasileiro foi uma das cinco pessoas que sobreviveram ao desabamento do hotel, onde 130 pessoas morreram soterradas. Ferido na perna, o Tenente-Coronel poderia ter se abrigado em algum lugar seguro, mas decidiu permanecer no local e ajudar no resgate. Seu companheiro, o Tenente-Coronel Alexandre Santos ainda estava soterrado e muitas outras pessoas ainda precisavam de ajuda.
O resgate de sobreviventes não foi fácil. Após o terremoto, tremores menores continuaram a abalar a região, e não havia nenhuma estabilidade sobre os escombros. Com a ajuda do Tenente-Coronel Celso Kersul, Azevedo escalou escombros e valeu-se de um rapel improvisado para alcançar as vítimas. Cinco horas depois, Alexandre Santos foi resgatado. Várias horas depois, Jude Brice, funcionário civil da Minustah, também foi salvo pelo brasileiro. A partir do exemplo do Tenente-Coronel Azevedo, mais militares e civis passaram a se empenhar na busca por sobreviventes. “Havia pirâmides de mortos nas ruas. Afastamos corpos para as viaturas passarem e prestamos socorro aos que estavam vivos. Imediatamente, decidimos que precisávamos apoiar a população”.
A bravura do então Tenente-Coronel Azevedo o fez merecer a Medalha do Pacificador com Palma do Exército Brasileiro, condecoração concedida a militares e civis brasileiros que, em tempo de paz, no exercício de suas funções ou no cumprimento de missões de caráter militar, tenham se distinguido por atos pessoais de abnegação, coragem e bravura, com risco de vida. Ao relembrar a experiência, o militar da reserva destaca o que ficou consolidado na memória. “O que mais me marcou lá foi o sentimento de equipe que nós brasileiros temos. O sentimento de um povo que sabe fazer as coisas bem-feitas.”